quinta-feira, 30 de abril de 2009

NOVATO

Outro dia, lá no blog do Chico, apareceu uma bela foto de um Tucker, objeto de uma das mais famosas lendas de perseguição pelo lobby e poder econômico das três grandes fábricas norte-americanas, imortalizada no longa-metragem de Francis Ford Coppola. Quem acredita que o empreendedor Preston Tucker foi uma vítima indefesa do sistema, provavelmente nunca reparou na semelhança de sua biografia com a de Henry J. Kaiser, industrial que, como Tucker, ganhou muito dinheiro com a fabricação de material bélico durante a II Guerra e que também acalentava o sonho de ter uma marca própria de automóveis, materializada no Kaiser Cardinal da foto acima, destinado a concorrer no segmento de entrada, e no Frazer, que visava categorias superiores do mercado. Ao contrário da naufragada Tucker, no entanto, a Kaiser "sobreviveu" à fúria das Big Three e foi uma realidade recebida com entusiasmo pelo mercado sedento por produtos novos no pós-guerra e, já em 1948, suas linhas exibiam as tendências que seriam seguidas principalmente pela Chevrolet e pela Plymouth na década seguinte, mas não tiveram fôlego para acompanhar as frenéticas renovações de estilo ditadas pela cultura consumista dos anos 50, que acabaram por inviabilizar todas as pequenas firmas independentes - no caso da Kaiser, ela encontrou uma sobrevida na América do Sul, principalmente na Argentina. O modelo 1949 da foto pertence ao Navantino, dono de uma curiosa predileção por modelos cujas fábricas não existem mais; com a crise econômica atual acabando com marcas tradicionais, ele tem uma boa oportunidade de expandir sua coleção...

segunda-feira, 27 de abril de 2009

HÁ VAGAS # 2 - THE KING


Coleção de automóveis que se preze tem que ter um puro-sangue de excelente estirpe em seu acervo e o meu eleito seria o Corvette Sting Ray Split-Window 1963, de preferência azul como o da foto, motor 327 carburado, para facilitar a manutenção (não sei se o pessoal aqui no Brasil sabe lidar com a injeção mecânica Rochester opcional), câmbio mecânico e rodas de cubo rápido. Reparem, pelo ângulo da foto, como ele realmente lembra uma arraia, justificando o sobrenome Sting Ray, e como o belo desenho de Bill Mitchell - que foi buscar inspiração na Bugatti Tipo 57 Atlantic para as janelas divididas - sacrificou a abertura do porta-malas em nome da pureza das formas. Um clássico entre os Grand Tourers, o Sting Ray é a resposta arrasadora aos que afirmam que os americanos não sabiam fazer grandes carros - pois sabiam e ainda eram capazes de vendê-los pela metade do preço de um equivalente europeu. Sei da existência de uns 4 ou 5 Sting Ray 63 no Brasil, um deles do M, que está convidado a dizer se minha ambiciosa meta vale ou não a pena.

domingo, 26 de abril de 2009

INVOCADO

Apesar de pouco conhecido junto ao grande público, o Oggi CSS merece ser lembrado como um dos grandes carros nacionais dos anos 80, cuja exclusividade foi garantida pela produção de apenas 300 unidades destinadas a homologar o motor 1.4 de 85 cv líquidos no Campeonato Brasileiro de Marcas em 1983. Requintes mecânicos como coletor de admissão especial, comando de válvulas esportivo e câmbio de cinco marchas reescalonado, além da suspensão mais firme, faziam do sedanzinho da Fiat um projeto mais refinado do que o de carros pequenos com motor de carro grande - que se tornariam objetos de desejo a partir do Gol GT - e remetia ao Willys 1093 feito por aqui nos anos 60. Apesar do sucesso nas pistas, o Oggi acabou não emplacando na onda dos sedãs pequenos de duas portas que conquistaram a classe média nos anos 80 e caiu no esquecimento após sua retirada de linha em 1985 para dar lugar ao Premio. A foto acima foi furtada do blog do Chico Rulez e o ensaio completo com o CSS e outras máquinas presentes no encontro do Alphaville pode ser apreciado aqui.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

É...


Chegou a tão sonhada hora de fazer um upgrade na garagem; não a dos antigos, que vai bem, mas na dos modernos. Dou uma olhada no orçamento, vejo quanto posso "pendurar" com o gerente do banco; calculadora daqui, conversa com os amigos dali, concluo que, na faixa que quero gastar, o grande candidato seria o Punto T-Jet da foto aí em cima, completinho, com ar-condicionado automático, teto solar e as parafernalhas de segurança, de preferência pintado de Rosso Corsa para honrar as tradições. Claro que os argumentos para ter o foguetinho (ou pocket-rocket, acho que a tradução literal "foguete de bolso" usada por aí não tem nada a ver) na garagem são puramente racionais: daqui a dez ou quinze anos será um clássico nacional, eu ando estressado e preciso me divertir no trânsito do dia-a-dia, o Felipe vai adorar passear nele, são 152 cv em um carro econômico, é até bom que desvalorize muito, pois aí eu não fico trocando de carro toda hora e por aí vai...
Decisão tomada, comunico aos amigos e começa a expectativa.
Ontem, um telefonema meio sem jeito do Meyer e o banho de água fria: um amigo que tem um Punto Sporting foi sequestrado, agredido e ameaçado por bandidos que roubaram as rodas do carro e o abandonaram, junto com o dono, em um matagal. Ao conversar com os policiais e com o dono do guincho, o fato estarrecedor: era o quinto Punto que eles iam resgatar naquele matagal em uma semana. Como as belas rodas (assim como as do Stilo) ficam bem em Unos e Tempras velhos, existe um mercado negro bastante movimentado para elas, que todo mundo sabe onde é, quem faz a receptação e quem as compra, mas ninguém faz absolutamente nada.
Não cabe, em um blog sobre carros antigos, dizer quanto pago de imposto de renda (ai, ai...), o que penso do que acontece na Ilha da Fantasia do Planalto Central e da impunidade que parece só não atingir a combalida clásse média "desse país". Cabe, sim, dizer que abundam carros sem graça pintados de preto ou prata nas ruas das metrópoles não porque o brasileiro seja cafona ou sem graça, mas porque não chamar a atenção passou a ser instrumento de sobrevivência.
A discussão eu deixo por conta de vocês.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

O IMPOSTOR

Praticamen-te desco-nhecido fo-ra dos EUA, o Pontiac Fiero ga-nhou noto-riedade nos últimos anos após a divulgação de uma matéria que o apontava como base para a maior parte das falsificações de superesportivos vistas por aí (e o pior é que tem quem compre...). Tirando esse lado pouco glorioso de sua carreira, trata-se de um esportivo interessante, talvez o equivalente cultural, nos EUA, de bólidos como o Opel Tigra ou Mazda MX3, mais preocupados com a diversão ao volante e com um visual descolado do que com desempenho de pista ou potência de caminhão. Outra curiosidade do ianque fica por conta do seu motor, um quatro cilindros derivado dos veneráveis 153/151 desenvolvidos para os Chevy II/Nova e largamente usados no Brasil pelo Opala (havia também o V6), como o modelo da foto, um Fiero Indy 1984, com o 4 cilindros 180 (3.0 litros, 150 cv líquidos, praticamente a mesma potência do 250-S nacional), que tem "cidadania" brasileira e pertence ao M, dono de uma estranha obsessão por esportivos ingleses, mas que prefere a confiável mecânica do Opalão na hora de se divertir...

quarta-feira, 22 de abril de 2009

OVERDRIVE

Depois de umas semanas de ausência e do primeiro ano, desde 2004, fora de um grande encontro nacional, acho que consegui perceber o óbvio: o mundo não acabou e a vida continua do mesmo jeito. O que ocorre, como muito bem observou o Flávio Gomes sobre a saída do Ron Dennis da McLaren, é que as pessoas tendem a se sentir no centro do universo quando estão muito envolvidas com qualquer atividade e precisam de um outro ponto de vista para redimensionarem a importância das coisas. Sem querer me delongar em explicações, o fato é que o Antigomóveis está de volta, mas agora em uma "rotação" bem menos frenética e muito mais coerente com uma atividade que, por princípio, só deve dar prazer a quem a pratica. Bem-vindos novamente!

sexta-feira, 3 de abril de 2009

HÁ VAGAS # 1 - O RESGATE

Para inaugurar a nova seção do blog, um reencontro com um modelo que marcou minha vida ao volante; os mais chatos podem torcer o nariz, chamá-lo de pesadelo estilístico com seu excesso de apliques plásticos, ultrapassado, beberrão e tudo mais, mas foi o Diplomata Collectors 92 o único carro que, até hoje, me fez rir sozinho ao volante - devo dizer que já estive no comando de brinquedos enfeitados com estrela de três pontas, hélice estilizada e serpente devoradora de homens. Esse aí da foto, tirada pelo mestre Chico Rulez, era meu até 2006 e tinha menos de 40 mil km (o teste completo está aqui). Um ano depois de tê-lo vendido, vi uma foto dele com o kit pagodeiro completo, com suspensão rebaixada, vidros escuros, sonzão arrasa-quarteirão e reboque, uma pena. Assim que eu achar um legal à venda, vão sobrar só 63 vagas no galpão.

HÁ VAGAS - PREÂMBULO

Semana passada, após um cálculo rápido no galpão onde guardo as minhas tranqueiras, concluí que ainda posso estacionar mais 64 carros com uma distância de 1/2 metro entre eles e sem que um feche a passagem do outro, uma boa marca. Na verdade, nunca tive a pretensão de ter muitos carros porque a estrutura para mantê-los se torna complexa demais, mas seria interessante dar toques impessionistas sobre quais seriam os eleitos para tamanho espaço. Palpites são bem-vindos!
ATUALIZAÇÕES:
# 10 - MGB 1979
# 14 - Kombi 1974

quinta-feira, 2 de abril de 2009

QUADRIL LARGO

Listo abai-xo algumas idiossincra-sias dos DKW F-91 e F-94, dos quais derivou o primeiro carro de passageiros reconhecido como genui-namente brasileiro:
- Motor de dois tempos, marca registrada de todos os DKW já produzidos.
- Tração dianteira, em uma época em que a tração traseira era a regra.
- Câmbio invertido de quatro marchas na coluna de direção (a primeira era para baixo, como nos de três marchas de origem americana).
- Uma bobina para cada cilindro.
- E a menos conhecida: frente mais estreita do que a traseira, de modo que o golpe de vista do motorista que quisesse passar em qualquer lugar estreito tinha que acrescentar alguns centímetros para o carro não "entalar" na passagem, como pode ser notado na imagem do paralama traseiro desse belo conversível, extraída da cobertura da viagem do Flávio Gomes ao leste alemão.