Não deixa de ser curioso pensar que o veículo de design mais atraente da história de uma marca foi concebido por um grupo independente que nem podia ser considerado sua filial, já que a Vemag apenas tinha um acordo com a Auto Union para produzir os DKW sob licença. Na virada dos anos 60, já estava clara a preferência do consumidor europeu pelos motores de quatro tempos e a Auto Union, sob controle da Mercedes desde 1958, assistia ao domínio absoluto do Volkswagen e o crescimento da Opel no setor de populares, ficando seus DKW relegados a um nicho de entusiastas incapaz de garantir um volume de produção que justificasse novos investimentos. Mesmo assim, tentou-se uma segmentação com a produção do Junior, muito simples, e do F-102 (1963-66), mais sofisticado, ambos substitutos dos F-93 e F-94 semelhantes aos Belcar nacionais. Mas nenhum dos dois tinha desenho muito entusiasmante e, muito embora o F-102 tenha originado o primeiro Audi do pós-guerra, sua aparência era bem mais conservadora do que a do Fissore, seu contemporâneo brasileiro (1964-67) desenvolvido pela Vemag em conjunto com a Carrozzeria Fissore italiana sobre a plataforma dos antigos F-94. Com linhas limpas e modernas, ele tinha ampla área envidraçada e antecipava os anos 70 - seu painel foi aproveitado no VW Brasília e as maçanetas fizeram escola nos VW SP2 e Fiat 147 -, embora a mecânica continuasse no estilo "anos 50". Um delicioso paradoxo que não fez sucesso no mercado (custava mais do que um Aero-Willys) e, diante da dificuldade de reposição das peças de carroceria e acabamento, se tornou raro mesmo entre os amantes da marca, como o exemplar fotografado em Lindóia/07.