quarta-feira, 29 de setembro de 2010

MISTURA FINA

A origem do projeto deveria ser européia, mesmo se para isso fosse preciso recorrer a um dos desenhos mais feios do seu tempo (o do Renault R12) e lhe dar um estilo mais jovial; o motor era econômico e confiável, desenvolvido a partir do pequeno Ventoux dos Dauphine/Gordini, mas disposto a aceitar algum veneno. Espaço no banco traseiro e no porta-malas eram imprescindíveis, já que não era comum que as famílias brasileiras tivessem mais de um carro na garagem. Mas era preciso algo da magia dos pony-cars que povoavam o imaginário dos entusiastas brasileiros na época, conseguida pela linha de cintura sensual com o "ombro" próximo à coluna C, relógios em profusão no painel de instrumentos e decoração com faróis auxiliares e faixas pretas; teto de vinil era de rigueur. O toque final ficava por conta do nome - Corcel, em clara alusão ao Mustang - seguido da magia da sigla GT. O resumo acima é um pálido retrato da capacidade criativa do departamento de projetos da Willys, que acabou absorvida pela Ford em 1966 e que foi responsável pela mistura mais refinada das escolas de estilo européia e americana já vista em um automóvel nacional, cuja melhor expressão se deu no modelo 1971 da foto acima, visto em Araxá/2010. O GT 1971 foi o último a vir com os relógios auxiliares integrados ao painel (os posteriores os traziam em um console separado) e o primeiro a trazer a charmosa tomada de ar auxiliar no capô; a denominação do motor envenenado - XP, de 1972 em diante - possivelmente deu origem a outro esportivo inesquecível da Ford brasileira - o XR3 - que se valia da mesma mecânica básica desenvolvida pelos visionários da Willys, mostrando o apreço da Ford brasileira pelo seu "filho adotivo".

7 comentários:

Mauricio Morais disse...

Realmente o Corcel da primeira safra é algo especial na história dos carros brasileiros. O pessoal do design deu uma aula aos europeus ao reestilizar o feio R 12.
Muito bem lembrado.
E há que se destacar também que o Corcel II causou um frisson danado quando foi lançado. Me lembro bem que em 1978 era um must passear a bordo de um deles, se fosse prateado então...

Luís Augusto disse...

Mas o design do Corcel II era bem pobre...

Guilherme da Costa Gomes disse...

Luís, o 72 também tem as falsas entradas de ar no capô.
Esse GT da foto está espetacular!!

Luís Augusto disse...

Oi Guilherme, informação corrigida! Tive a oportunidade de conhecer esse de perto em Araxá, inclusive o interior, todo original. Pertenceu a um famoso professor da Unicamp.

Francisco J.Pellegrino disse...

Bonito carro..o Corcel era um automóvel muito bom, confortável, freava bem para a época...eu gostava.

Arthur Jacon disse...

Luís, ouso discordar de você. O Corcel II podia ter um estilo controverso, mas não era pobre. Aliás, tinha forte personalidade, e, à época do lançamento, agradou em cheio. Porém, suas linhas, um tanto pesadas e datadas, envelheceram precocemente, antes mesmo do Passat. Mas a Belina e o Del Rey foram adiante.
Agora, o primeiro Corcel é, de fato, uma aula de design.

Luís Augusto disse...

Arthur, o Corcel II agradou em cheio a classe média empobrecida do final dos 70's. Como quase tudo o que simplesmente segue as tendências (e não as cria) e agrada imediatamente, não marcou muito na posteridade. Seu desenho até que não é dos mais mal-resolvidos, mas a pretensão de médio-grande associada ao entreeixos curto e a peças de carroceria que lemram as de veículos fora-se-série de tão simplistas tiraram muito do seu brilho.