MGA e seu sucessor ao lado do VW Karmann Ghia e seu sucessor - encontro de gerações
O odômetro do MGB marcava 26794 milhas quando dei a partida na sexta-feira, às 7 da manhã, rumo a Tiradentes, de onde seria dada a largada para os mineiros que participassem do Raid, com destino a São Lourenço. Como moro a 30 km de estrada aberta até o trabalho e uso meus antigos frequentemente na labuta do cotidiano, nenhuma revisão especial precisou ser feita no carro e posso dizer que, graças a essa distância, conheço bem suas manhas e seus limites em situações de maior exigência. Meu navegador também é um velho conhecido desde
esta prova, de modo que formamos - carro, navegador e piloto - uma equipe bem azeitada para o que estava por vir.
Mercedes 350 SL foi o mais rápido de sua categoria no primeiro prime
Chegando em Tiradentes, conheci alguns dos meus adversários, todos em carros magníficos, a maioria esportivos puro-sangue, além de um Fusca 1500, um Fiat 500 moderno, uma belíssima F-100 V8 com câmbio automático e o BMW 328 1993 do Roberto Aranha, piloto carioca da mais refinada técnica que, muito elegantemente, levou seu cocker spaniel para se divertir a bordo do clássico de Munique.
Um pouco da diversidade automotiva vista no Raid; o Porsche veio de Curitiba e levou 3 troféus
Foi também na largada em Tiradentes que tive o prazer de conhecer o Jornalista José Resende Mahar, figura respeitadíssima no meio automotivo e dono de conhecimento enciclopédico a respeito de tudo o que depende de combustão interna. Nos identificamos imediatamente pelo seu fino humor britânico associado ao fato de eu estar com o único representante da terra da Rainha naquela largada e, principalmente, por sermos membros de uma raríssima seita - a de colecionadores de carros antigos que possuem uma Caravan 4 cilindros em seu acervo.
E foi dada a largada!
Jaguar E-Type V12 automático
Eu, o Eduardo e a baratinha íamos muito bem, na maioria das vezes com cerca de 3 ou 4 segundos, no máximo, de erro em relação às referências; apesar de estarmos correndo em estradas com trânsito aberto, a agilidade do MGB me permitiu negociar bem as ultrapassagens sobre veículos mais lentos e manter as médias não parecia lá muito difícil... até que, passados 20 minutos de prova, a chuva resolveu cair pra valer. Para um esportivo dono de uma estabilidade digna de um kart, tudo bem e continuamos no ritmo forte que a prova exigia, mas, com mais uns 30 minutos de chuva inclemente, Joseph Lucas, The Prince of Darkness, resolveu aprontar das suas e uma pane elétrica fez com que os limpadores de parabrisa parassem de funcionar. Mesmo com visibilidade quase zero, eventualmente tendo que colocar a cara para fora do carro e nos ensopando por causa dos vidros abertos, continuamos a mandar lenha, agora sem a mesma precisão do início, mas conseguimos cumprir a prova satisfeitos com o nosso desempenho. Para o troféu de regularidade, estávamos no páreo!
Ao volante, diversão em seu estado mais puro...
No sábado, o sol resolveu dar o ar da graça e, em um dia magnífico, fomos brindados com as provas de velocidade em estrada fechada, os primes. Com um motorzinho de 4 cilindros sem a mesma compressão da sua juventude, o MG não tinha muita chance contra os grandões, mas foi divertidíssimo acelerar o bicho até o limite, chegando, depois de 14 quilômetros da segunda prova, envolvidos pelo cheiro de borracha queimada e discos de freio quase incandescentes, com a certeza de que fizemos boa figura - soubemos depois, que merecemos um mais do que digno décimo lugar.
Foram poucos os muscle-cars no evento, mas o Dodge Charger nacional fez ótima figura
Foi nesse sábado que tive o prazer de conhecer pessoalmente o Paulo Levi, do Adverdriving, a quem devo algumas das fotos deste post, e seu absolutamente maravilhoso
Chevette 1975, e o Max Acrísio, que, com seu MGA (seu há 37 anos!), representou, junto comigo, a casa de Abingdon e a tradição dos mais divertidos esportivos do mundo.
Carros interessantes não faltaram entre os cerca de 60 inscritos, desde os originais impecáveis, passando pelos preparados e até um Fusca com motor Porsche de 6 cilindros 3.6, um Chevette com V6 de Pajero tão bem instalado que parecia original (segundo o dono, até os coxins originais do motor foram aproveitados) e um Gordini com motor VW AP 2.0.
Os dois MGs perfilados aguardando a largada do segundo prime em Dom Viçoso pareciam se sentir em Brescia nas Mille Miglia; mais atrás, o Chevette só observa...
Noite de premiação e o Troféu José Resende Mahar, para a equipe que melhor representou o espírito do evento, veio para nós, graças à pane causada pelo Príncipe das Trevas e que, segundo o próprio Mahar, não foi capaz de tirar nosso sorriso e nosso espírito desportivo. Confesso que me senti emocionado em merecer ganhar um troféu das mãos de figura tão ilustre.
Duas gerações de Ford F-100, escandalosamente lindas
Outras premiações especiais foram para o
Ford T5, de veículo mais raro do evento, para o Porsche 911 de Luiz Leão, que veio de mais longe (Curitiba), e para o piloto mais velho, Jan Balder, no imortal
Malzoni das Mil Milhas de 1966. O campeão geral do Raid foi o Paulo Henrique Novo, com o Puma 1978, que perdeu apenas 31 pontos, seguido pela Ford F-100 V8 do André Peon (80 pontos perdidos) e pelo nosso querido MGB (84 pontos perdidos), coincidentemente os três na mesma categoria. Muito sentida foi a ausência do Muricy, que teve um problema de saúde na família e acabou impedido de comparecer na última hora.
Eu, o Max e os MGs, que, por causa do atraso dele na largada, fizeram um lindo pega no segundo prime
De volta para casa, sem nenhum engasgo ou problema maior (felizmente não voltou a chover!), o odômetro do MG marcava 27510 milhas. Foram 1175 quilômetros de sorrisos em apenas 3 dias. Missão cumprida!
De volta para casa com dois troféus e 1175 km de diversão