
Com a queda da demanda por mate-riais béli-cos após o fim da II Guerra, a indústria automotiva começou a readaptar o ferramental de suas fábricas para voltar a produzir veículos, inicialmente aproveitando projetos do pré-guerra, que tinham condições de ser colocados mais rapidamente no mercado para atender à demanda reprimida. Dois dos modelos mais comuns no Brasil dos anos 50 representam exatamente essa fase da história do automóvel e estão escalados para o duelo de hoje, o Citroën Traction Avant e o Chevrolet Fleetmaster, os carros típicos do cidadão médio da França e dos EUA no pós-guerra. Lançado em 1934 como prova da capacidade técnica da Citroën, o revolucionário Traction Avant demandou tantos esforços que praticamente quebrou a empresa, forçando sua venda para o grupo Michelin. Embora precedido por modelos alemães e norte-americanos na adoção da tração dianteira, ele foi o primeiro a oferecer as reais vantagens desse sistema, como o espaço interno inédito e a estabilidade imbatível, para a qual colaboravam a estrutura em monobloco e o centro de gravidade baixo. Produzido até 1955, ele oferecia várias opções de motor quatro cilindros e um de seis em linha. Para privilegiar ainda mais o espaço, a caixa de marchas era montada à frente do motor, motivando a estranha posição da alavanca, saindo do painel. Já o Fleetmaster 1948,

ultimo ano de evolução de um projeto de 1935, era o conceito oposto, ul-traconser-vador em tudo, tal-vez o me-lhor exem-plo do bom, bonito e barato - para os americanos, claro! Carroceria construída separada do chassi, motor seis em linha dianteiro, tração traseira, suspensão molenga, pouca potência específica e enorme robustez e durabilidade fizeram do Chevy o queridinho dos taxistas e frotistas, como o próprio nome Fleetmaster sugere. Seu estilo era mais sintonizado com os anos 40 do que o do francês, mas ninguém, naquela época, ousaria rotular o Citroën como antiquado. Quem tem mais de 25 anos se lembra que foi o Traction Avant o carro escolhido para a fuga da família Von Trapp para a Suíça no clássico
A Noviça Rebelde, pois o almirante austríaco sabia que, com ele, nenhum carro o alcançaria naquelas estradas sinuosas. Se ele estivesse num Fleetmaster, o final do filme poderia não ter sido feliz. Europa 6 x 5 América.