Pela primeira vez, em três anos, peço licença aos leitores para tratar de um assunto não relacionado ao antigomobilismo, mas o episódio de hoje causou tamanha indignação que resolvi deixar registrado aqui um pequeno protesto contra o massacre do cidadão promovido pelo Estado Brasileiro.
Como é óbvio para todos os que me conhecem, sou um apaixonado por automóveis; tenho sete deles em minha garagem. Há muitos anos, entretanto, tenho um Palio EX 1.0 1998 que uso quase que exclusivamente para ir ao consultório. A razão para ter um carro de uso diário tão abaixo das minhas possibilidades financeiras é simples: não há estacionamento privativo na região do meu consultório, situado em um bairro residencial, e me cansei dos dissabores de deixar um carro mais vistoso na rua o dia inteiro. Já perdi a conta de quantos arranhões, vidros quebrados, retrovisores roubados e outras ocorrências semelhantes em sete anos que estou ali, mas, com o velho Palio, pelo menos, o desgosto é menor. Roubaram uma calota? Fica sem calota. Arranharam a porta? Fica arranhado. Quebraram um vidro? Pago R$ 100 para colocarem outro e vamos tocando a vida, desamparados pelo poder público, como se isso fosse a coisa mais natural do mundo. Hoje estacionei o carro em frente ao consultório às 14:00, como de costume. No final do expediente, pouco depois das 19:00, o vidro lateral estava quebrado e, ao lado do carro, dois policiais que disseram estar ali desde as 16:00. Naturalmente, nenhum meliante estava preso, detido ou intimado a me ressarcir do prejuízo, mas sim um guincheiro que se preparava para remover o carro dali! Um carro estacionado regularmente, com todos os impostos, taxas e seguros compulsórios pagos, vítima de um crime e a gloriosa Polícia Militar, que eu acreditava ter a missão de proteger o cidadão, querendo me "premiar" me deixando sem carro e tendo que pagar todas as taxas de reboque, estacionamento e demais extorsões oficiais de que somos vítimas sem nos darmos conta. Alegou o eficiente soldado que estava tentando localizar o dono do carro havia três horas e que aquilo caracterizava abandono! Pois, se eu trabalho EXATAMENTE EM FRENTE ao local da ocorrência, em uma casa com uma secretária/recepcionista, como podem não ter me "localizado" (sic)? E que abandono é esse em que o carro ficou menos de seis horas estacionado regularmente? E que cidade é esta, tão pacífica, que pode deixar dois policiais ociosos por três horas tentando "localizar" o proprietário de um carro vítima de vandalismo, como se outros crimes não estivessem ocorrendo ali mesmo, naquela rua? Será que estou ficando louco? Ou isso tudo era uma pegadinha e só eu não percebi?