Buick 1950 conversível ...
Há 2 semanas
Uma volta nos automóveis antigos e clássicos que marcaram época
Se pode-mos afir-mar que existe um projeto que-ridinho des-te blog, esse é o da Caravan, já contempla-da em um teste mais completo com sua antecessora Opel Rekord e com minha 76, que aparece novamente neste comparativo com a Comodoro 79 do Dr. Eduardo Carone Jr., como anunciado há algumas semanas. Comparativo não seria exatamente o termo mais correto para esse teste, já que se trata dos extremos da linha Caravan, mas é interessante colocar o modelo basicão 4 cilindros ao lado da top-de-linha 6 cilindros para constatar a flexibilidade do projeto original da perua da GM que, na época do seu lançamento já tinha nove anos de idade - a linha Rekord C foi lançada na Alemanha em 1966. Difícil é relatar a diferença abissal entre as duas sem sair do óbvio, como o maior número de frisos, revestimento em material nobre, tratamento acústico melhor, painel
completo, com conta-giros mar-cando até 7000 rpm, e os bancos separados da Comodo-ro, tudo is-so fazendo bonito dian-te dos plás-ticos bara-tos, ausên-cia de frisos, forrações pobres e acabamento de utilitário da versão standard. Rodas de magnésio da época calçadas por pneus radiais, disponíveis nas linhas SS e Diplomata a partir de 1980, completam o charme da irmã rica que, apesar dos predicados na aparência e no acabamento, traz como grande atração o motor 250-S opcional, versão apimentada do 4100 (250 é o seu volume em polegadas cúbicas) nascida nas pistas para competir com o Maverick V8 e que acabou conhecida entre os entusiastas como MC Competição (MC de Mecânica Chevrolet). Sobre esse motor, inclusive, há muita confusão por causa de uma matéria na QR Clássicos, que dizia que sua potência líquida era maior do que a dos V8 da Dodge e do Maverick - o que a revista não contou é que havia o 250-S com três taxas de compressão diferentes, comparando o raríssimo Competição com taxa de 9:1, de 153 cv líquidos (171 brutos) com os 302 e 318 comuns, tema para um futuro post. Voltando às Caravans, o que fica patente é como um trato do departamento de engenharia é capaz de milagres em um mesmo projeto básico. Andando nas duas, a sensação é a de estar dirigindo um carro muito mais moderno quando ao volante da Comodoro, graças a comodidades como ar condicionado e direção hidráulica, melhor estabilidade e ao câmbio de quatro marchas no assoalho, frente ao de três na coluna de direção da 76 que, com a estabilidade inferior por causa dos pneus diagonais, pede uma tocada típica de "carro do vovô". Os 127 cv líquidos dão ao 250-S um desempenho irrepreensível e, embora o 151 de quatro cilindros dê conta do recado, a sensação ao reassumir o volante da standard é a de que o carro está desregulado ou com velas sujas por causa das respostas muito mai
s lentas e da vibração maior - o Chevrolet seis em linha é um dos moto-res de fun-cionamento mais suave já feitos no Brasil. Enfim, o que conta mesmo é a viagem a um tempo em que, por causa da menor oferta de modelos, uma perua era capaz de se tornar um carro luxuoso de grande desempenho ou um veículo voltado para o trabalho, disponibilizando, entre eles, todas as combinações intermediárias que o gosto - e o bolso - do proprietário fizesse questão, feito que sua sucessora Suprema não conseguiu repetir.
É curioso pensar que, até o lançamento do Balilla, em 1932, a Fiat - que acabou se tornando referência em veículos populares - se desta-cava pela produção de veículos de alto luxo, caso desse Town Car 1923, Best of Show em Lindóia/2005 e cuja carroceria traz a curiosidade de abrigar três compartimentos distintos de passageiros: dois conversíveis (o do motorista e o da traseira) e um totalmente fechado, visando a privacidade de seus abonados ocupantes. Até a II Guerra, a Itália era um dos países de maior desigualdade social da Europa Ocidental, o que colocava a massa operária longe do sonho do carro próprio e encorajava a indústria local a se concentrar na produção de veículos para as elites, como os Isotta-Fraschini 8A e Lancia Lambda, muito sofisticados tecnicamente, mas de estilo mais contido do que o adotado pela Fiat, que nunca mais conseguiu associar sua imagem a produtos refinados - vide o calor que o Linea atual está tomando da concorrência e a desvalorização do Tempra e do Marea frente a seus contemporâneos.
A questão foi levan-tada pelo Tohmé, do excelente minumundo, e serve de resposta àqueles que acham que a indústria japonesa dos anos 60 só produzia cópias baratas dos produtos europeus. Confesso que não conhecia o Isuzu Bellett 1600 GTR, um cupê esportivo com pouco mais de 1000 unidades produzidas a partir da linha Bellett (que contava com diversas opções de carroceria) entre 1968 e 1970, antecipando ícones como os BMW 2002 e Opel Manta SR. A estratégia de viabilizar a produção de um cupê esportivo de desempenho diferenciado, baseado em uma linha mais ampla, havia sido inaugurada na década anterior pelo Alfa Romeo Giulietta e, como sempre, os meticulosos japoneses levaram o conceito à perfeição, com um 1.6 de duplo comando, dupla carburação e 120 cv líquidos vestido por uma carroceria muito elegante, e obtiveram mais sucesso comercial do que a Toyota, que apostou no muito mais caro e exclusivo puro-sangue 2000 GT. Um dos veículos mais cultuados do Japão atualmente, o Bellett 1600 GTR representa a glória e o ocaso da Isuzu entre os entusiastas, já que, a partir de 1971, sob controle da GM, ela passou a produzir cópias de veículos Opel, enquanto as marcas rivais consolidavam a identidade própria dos carros japoneses.
Além das versões militar, anfíbia, quatro-portas, cabriolet Karmann e roadster Hebmüller, um outro modelo raríssimo e praticamente desconhecido do besouro mais querido do mundo foi o Stoll Coupé, baseado no Bretzel de 1952. Inspirado em um protótipo de teto rígido da Hebmüller que não sobreviveu ao tempo, ele trazia carroceria 2 + 2 e interior requintado, preservando a mecânica original 1.1 de 26 cv dos modelos de produção normal. O modelo ganhou sua versão final em 1954, mas sua proposta de oferecer requinte e exclusividade a quem gostava do Fusca acabou trombando com o Karmann Ghia, de 1955, e apenas uma unidade foi produzida pela Stoll. Embora exposta no museu de Wolfsburg, a jóia rara pertence a um colecionador inglês que gastou 14 anos na sua restauração - e, de quebra, é proprietário de um autêntico Hebmüller, entre outros modelos clássicos do Fusquinha.
Para evi-denciar ain-da mais a moderidade do Airflow, de 1934, vale a pena nos deter-mos nesse estupendo Cadillac
Em 1934, sob clima de forte depressão econômica, o desenho dos carros americanos ainda reme-tia aos anos 20 e conservado-rismo era a palavra de ordem em um mercado retraído, que observava a quebradeira generalizada de grandes fabricantes por todo o mundo. Apesar do cenário desfavorável, a Chrysler resolveu ousar e antecipar o estilo dos anos 40 com o Airflow, considerado o primeiro Streamline do lado de cá do Altlântico e que quase levou o grupo à falência por não ter emplacado no mercado como a empresa esperava, saindo de cena em 1937 com pouco mais de 30 mil unidades vendidas. Ousado não só no estilo, ele adotava a moderna construção em monobloco - lembremos que essa prática só ganhou força nos EUA nos anos 60 - e oferecia espaço interno digno de um salão de festas. Muitos atribuem seu fracasso à frente esquisita, com grade em estilo art déco, mas a verdade é que o consumidor norte-americano não estava preparado para um produto tão sofisticado, capaz de se colocar ao lado dos seus pares das melhores casas européias e que, apesar de mal sucedido, abriu o caminho para os menos ousados Lincoln Zephyr 1936 e Ford 1937.
A beldade da foto ao lado, flagra-da no en-contro de Lindóia/07, é um mode-lo 1974 do menos co-nhecido dos pony-cars, que tanto sucesso fazem neste humilde blog - creio que só faltava falar dele. Trata-se do AMC Javelin, lançado em 1967 para fazer frente à legião de esportivos compactos lançados pelas Big Three a partir de 1964 e que causaram alvoroço no mercado americano. Se faltava leveza ao desenho da primeira geração, característica da primeira leva de Barracudas, Mustangs e Camaros, a segunda fase do Javelin, oferecida entre 1971 e 1975, se mostrou muito mais bem-resolvida do que alguns modelos da concorrência e, associada às vitórias da marca na Trans-Am, deram alguma projeção ao esportivo, que acabou vendo suas vendas minguarem após a crise do petróleo. Seu estilo atraente e as opções de motores V8, que iam do 343 ao 401, poderiam ter apontado um caminho interessante para a marca, surgida da união da Hudson com a Nash para se tornar a quarta potência automotiva americana, mas ela acabou escolhendo o caminho para o desastre ao produzir "criaturas" como o Pacer e o Gremlin.
O primeiro pony-car a convidar o jovem americano a acelerar e encontrar sua própria identidade longe dos suntuosos full-size e dos compac-tos baratos, feitos pelas divisões de entrada das Big Three, foi o Plymouth Barracuda 1964, que antecedeu o onipresente Ford Mustang em algumas semanas - a Chevrolet comeu poeira e só disponibilizaria o Camaro em 1966. Com diversas opções de acabamento e motorização, sendo o V8 273 (4.5 litros, 180 hp brutos) o mais usual, ele era baseado na primeira geração do compacto Valiant e mantinha forte identidade com o modelo que lhe deu origem, o que tirou muito do apelo de vendas do primeiro 'Cuda, eclipsado pelo rival da Ford que em nada remetia ao feioso Falcon, do qual derivava. O troco viria na segunda geração, de 1967, com um dos desenhos mais bonitos do final dos anos 60 e a opção dos legendários motores Hemi ou Magnum 440, provando a vocação de vanguarda do grupo Chrysler na cultura automotiva americana. Raríssimo no Brasil em sua primeira geração, o 'Cuda me obrigou a recorrer ao Canadian Driver para achar uma foto para ilustrar o post.