Caminhão Ford F-600 1957 ...
Há 22 horas
Uma volta nos automóveis antigos e clássicos que marcaram época
Legítimo herdeiro da tradição brasileira de esporti-vos puro-sangue iniciada com os Brasinca 4200 GT e DKW Malzoni e consolidada com os Puma GT e GTE e Santa Matilde, o Lobini H1, nascido em 1999 e apresentado ao grande público em 2004, tem predicados que o tornam apto a fazer parte de qualquer resenha mais abrangente sobre carros clássicos, como este humilde blog. Pesando apenas 1030 kg, tem motor 1.8 turbo da Audi em posição central-traseira com 180 cv líquidos, chassi tubular e comportameto dinâmico de carro de pista, o que torna o pocket-rocket um dos mais interessantes carros já produzidos em solo brasileiro. O modelo da foto foi flagrado no encontro de Lindóia/2005, mostrando que não é só a idade que torna um veículo merecedor do título de "clássico".
Dois dos primeiros veículos produzidos em território brasileiro tinham suas raízes nas forças armadas dos seus países de origem: o Willys Jeep e o DKW Munga, conhecido aqui como Candango. O americano se tornou sinônimo de 4x4 desde a II Guerra, tendo o seu nome surgido da junção dos fonemas GP (de General Purpose, ou uso geral); atuou em todas as frentes de combate, destacando-se pela extrema robustez mecânica e capacidade de chegar a lugares até então impossíveis para um veículo de quatro rodas, embora a agilidade nunca tenha sido o seu ponto mais forte (a outra versão para o nome Jeep é a de que ele teria sido insiprado em Eugene, the Jeep, o amiguinho do Popeye que sempre estava nos lugares mais improváveis). Já o alemão, cujo nome vem de Mehrzweck Universal Geländewagen mit Allradantried (veículo utilitário de tração total para uso geral), nasceu em tempos menos
Para deses-pero dos fuscama-níacos do mundo inteiro, os protótipos fabricados sob super-visão do governo nazista, que ante-cederam as formas finais do Fusca, foram destruídos a golpes de marreta por soldados SS, após terem rodado mais de dois milhões de quilômetros em testes sob as mais diversas condições. Entretanto, a idéia do Dr. Ferdinand Porsche para um carro popular na Alemanha é anterior ao acordo com Hitler, tendo a sua concepção iniciado em um projeto para a fábrica de motocicletas Zündapp, em 1932, e evoluído com a encomenda de um modelo compacto pela NSU, finalizado em 1934, também conhecido como Volksauto ou Porsche Tipo 32. Embora alguns protótipos tenham sido construídos, ambas as empresas concluíram que o investimento era arriscado demais e acabaram desistindo do negócio antes que a produção regular dos veículos fosse iniciada. Nenhum dos três protótipos da Zündapp existe mais, mas os três da NSU foram vendidos a particulares e um deles sobreviveu à guerra, tendo rodado como carro de uso normal no interior da Itália até 1956, quando foi comprado pela VW em troca de um modelo 0km. Apesar do estilo rudimentar, o Volksauto já tinha soluções como motor traseiro refrigerado a ar e suspensão por barras de torção, mas, no lugar do 1.1 litro dos primeiros Fuscas, essa unidade tinha 1.4 litro e rendia apenas 28 cv, mostrando que houve grande evolução até o modelo de produção regular da Volkswagen. Atualmente, há réplicas dos outros protótipos expostas em Wolfsburg, mas este NSU é o único autêntico representante das idéias originais de Porsche que levaram ao carro de maior sucesso da história. A foto acima é do excelente Webkits, que traz um ótimo artigo sobre a história dos carros alemães.
Provavel-mente o veículo mais premiado do Brasil, o Brasinca 4200 GT 1965 chassi 0009 tem uma histó-ria interes-sante: co-mo se sabe, ele foi desenvolvido pela Brasinca para provar a capacidade técnica da empresa que, na época, fornecia peças estampadas para boa parte dos fabricantes instalados por aqui. Entretanto, como foi lançado em um período de turbulências econômicas que levaram a marchas e contramarchas na política de proteção à indústria nacional, o esportivo não deu os resultados comerciais que a empresa esperava, de modo que o projeto foi vendido, junto com o ferramental, para o grupo independente STV, que continuou a fabricá-lo com o nome do projeto, Uirapuru. Pouco tempo depois, ele teve a produção definitivamente interrompida pela STV e a Brasinca se deu conta de que não tinha guardado nenhum modelo em seu acervo para contar a história, mas, como o veículo ainda era recente, não foi difícil achar um pouquíssimo rodado e recomprá-lo para que ficasse na empresa, justamente o 0009 em questão. Acontece que, com a abertura abrupta às importações em 1990, a Brasinca passou por dificuldades financeiras e, tendo contratado um advogado para questões internas, pagou seus serviços com o 4200 GT do seu acervo em 1997; como o advogado não se interessava por carros antigos, repassou-o ao Dr. Otávio, do Veteran de BH, naquele mesmo ano, sem sequer tê-lo colocado em seu nome. Assim, tecnicamente - e, segundo a nota fiscal emitida pela Brasinca - o Dr. Otávio comprou o esportivo 1965 faturado diretamente da fábrica em 1997 pela quantia simbólica de R$ 1,00! O carro é absolutamente original, tendo sido refeitos apenas a pintura e os filtros de ar dos carburadores SU, sendo que o motorzão Chevrolet 261 (4.2 litros, 166 hp brutos) nunca deu o menor sinal de cansaço. O leitor mais atento, ao comparar a foto desse post com a do de 13/07/2008, verá que as rodas são diferentes. O motivo é que ele foi comprado com os pneus ainda originais de fábrica, na medida 175 x 400 (em centímetros, com diâmetro correspondente a 15,75 pol), dificílimos de serem achados - nessa foto, ele está em lugar de honra no Brazil Classics 2004 usando os pneus originais. Para rodar, ele ganhou rodas aro 15 e pneus normais; afinal, uma raridade dessas merece ser desfrutada no seu habitat natural: as estradas.
A semelhan-ça não chega a ser tão óbvia, mas, com-parando as duas fotos, dá para acreditar que a frente do Corcel do post abaixo sofreu alguma influência do Falcon da Ford americana, até para dar alguma identidade com a marca ao projeto francês que havia sido comprado pela Willys antes de ser absorvida pelo fabricante do Mustang - aliás, o nome Corcel foi outra jogada de mestre para remeter ao pony-car americano, sendo que o símbolo dos primeiros modelos também era um cavalo galopando. Voltando ao Falcon, ele foi o mais bem-sucedido compacto da primeira geração das três grandes de Detroit, lançada no início dos anos 60 para combater a invasão dos Fuscas. Superou com folga o Chevrolet Corvair e o Plymouth Valiant da geração anterior ao nosso Dodge Dart e foi produzido entre 1963 e 1991 pelos nossos vizinhos argentinos em General Pacheco, onde, atualmente, é feito o Focus. Mesmo sendo o pé-de-boi da marca, havia, nos EUA, uma gama completa de versões e motorizações, inclusive esse conversível 1964 com um V8 289 (4.7 litros, 195 hp brutos) preservado no Route 66 Auto Museum em Santa Rosa, NM.
A partir dos anos 60, deu-se início a um processo de descentrali-zação da produção automotiva mundial que, até então, era muito concentrada nos EUA e na Europa Ocidental, o que ocasionou a consagração de alguns projetos pelo mundo afora que, comprados para reduzir os investimentos das marcas iniciantes, ganhavam apenas retoques cosméticos e mecânicos de acordo com o gosto local. Assim aconteceu com o Fiat 124 (Lada Laika na URSS), o Opel Rekord (Olímpico no México, Monaro na Austrália e Opala no Brasil) e o Renault 12, que originou o Ford Corcel por aqui em 1968 e o Dacia Denem romeno da foto acima, que se manteve em produção de 1969 até 2005(!), dando lugar ao bem-sucedido Logan, já sob controle da Renault. Reparem como as proporções do habitáculo, o desenho das rodas e das maçanetas de porta remetem imediatamente ao médio da Ford brasileira que, no entanto, tinha desenho muito mais harmônico, assinado por Roberto Araújo - o Corcel foi considerado mais bonito até do que o próprio Renault 12 que o originou, causando ciúmes nos franceses. O motor era o mesmo 1.3 litro dos primeiros modelos brasileiros, mas não recebeu os melhoramentos que originaram o CHT 1.6 dos anos 80.
De tempos em tem-pos, desde os primór-dios da história do automobi-lismo, surge um carro que estabelece novos padrões para a disputa, tornando-se a referência a ser superada nas temporadas seguintes. Exemplos como a Bugatti Tipo 35 dos anos 20, o Auto Union Tipo C de 1936 ou o Ford GT 40 do final dos anos 60 sempre vêm à cabeça, mas nenhum deles estabeleceu um abismo tecnológico tão grande em relação a tudo o que fora usado até então como o Audi quattro (com "q" minúsculo, mesmo) dos anos 80, com um fantástico sistema 4x4 que era considerado inviável, até então, em veículos de alto desempenho. Vencedora do WRC de 1982, a Audi retornaria ao primeiro lugar do pódio em 1984 com o quattro Sport da foto acima, de entreeixos mais curto e maior potência, vencendo diversas provas até a retirada da marca do mundial em 1986, após um desastroso acidente no Rali de Portugal (semelhante ao que fez a Mercedes após o acidente de Le Mans em 1955) que colocou fim ao Grupo B da competição. Apenas 220 unidades do Sport foram produzidas, tornando-o o maior clássico dos anos 80. Posteriormente, o quattro foi para as pistas norte-americanas, dominando de tal forma a Trans-Am que os organizadores proibiram a sua inscrição em 1989, como conta o Flávio Gomes. A compatibilização dos 304 cv líquidos do motor cinco cilindros de 2.1 litros e turbocompressor com a tração total veio da observação dos engenheiros da Audi sobre o ótimo comportamento dinâmico aliado à genial simplicidade do sistema usado no utilitário DKW Munga dos anos 50, idêntico ao Candango brasileiro. O que os livros sobre a Audi não contam é que o grande Jorge Lettry notou tal fato 20 anos antes, como relatou o jornalista Bob Sharp na Quatro Rodas de julho/2008, por ocasião da morte do pioneiro da Vemag.
Um dos mais desejados esportivos brasileiros na virada dos anos 70, o Puma GT 4R 1969 foi enco-mendado pela Revista Quatro Rodas ao pequeno fabricante independente, que vivia o seu auge naqueles primeiros anos. Se não tinha linhas tão harmoniosas quanto as do modelo de produção regular, o 4R trazia soluções interessantes, como as entradas de ar nos paralamas traseiros e os faróis quadrados atrás de carenagens, além de uma frente em cunha que lembrava os então novíssimos Corvette Stingray. Na mecânica, um 1600 standard do VW Zé do Caixão, já que a Puma não quis correr o risco de quebras preparando com seus kits um motor para um carro de tamanha exposição na mídia especializada. Apenas três unidades foram produzidas para a revista (e mais uma, com pequenas modificações, que deveria ter ficado na fábrica, mas acabou sendo vendida posteriormente) e todas sobreviveram ao tempo, entre elas o modelo cobre da foto, exposto em lugar de honra no Brazil Classics 2004 e que, atualmente, faz parte de uma das melhores coleções do Brasil. Sugestão para o simpático Editor da QR, Sérgio Berezovsky: que tal reeditar a promoção com um Lobini H1 4R? Acho que seria um grande sucesso!
Ocupada em pro-jetar caças MiG, bom-bardeiros Tupolev, transpor-tadores Antonov e foguetes Scud, a elite da engenharia soviética não tinha muito tempo para se ocupar com questões de menor importância estratégica para Moscou, como veículos de uso civil, de modo que, em meados dos anos 60, o governo central achou mais interessante contratar, no exterior, o desenvolvimento de um parque industrial inteiro para repor a sua modesta e já obsoleta frota de carros. O acordo foi fechado com a Fiat italiana - que, na época, tinha interesse em vir para o Brasil, mas acabou priorizando o negócio com a URSS - que ficou incumbida de fornecer o know-how necessário para a produção em escala. O modelo eleito para a estréia foi o Fiat 124 de 1966, um projeto bem-sucedido na Europa, bem de acordo com as tendências de linhas retas e ampla área envidraçada que predominariam nos anos 70 e 80. Chamado de Lada 2105, ele foi lançado por lá naquele mesmo ano, tendo se mostrado um sucesso como produto de massa, inclusive na exportação para a Europa Ocidental, onde ficou conhecido como Riva, e para os nossos vizinhos da América Latina, com o nome Laika. No Brasil, ele chegou em 1990, junto com a transição abrupta do socialismo para a economia de mercado na Rússia, que precisava desesperadamente de divisas em moeda forte e passou a vender os Laikas no mundo inteiro a preços inacreditavelmente baixos. Poucos anos depois, ganharam a fama de terem projeto obsoleto e qualidade ruim, afundando a marca no país. Na verdade, nunca houve nada de errado com o Laika dentro da proposta de veículo de entrada, sendo que ele era até superior a seus concorrentes em alguns aspectos. Comparado à realidade brasileira de Del Rey, Opala e Chevette - houve até espaço para a ressurreição do Fusca em 1993 - o obsoletismo do seu projeto se torna mais retórico do que prático, enquanto sua suposta qualidade inferior era fruto do desinteresse do importador em montar uma estrutura realmente sólida de representação. Assim, após o fogo de palha do lucro fácil para o empreendedor, os proprietários se viram aguardando peças de reposição que nunca chegavam, forçando o aparecimento de gambiarras de toda espécie, feitas por "especialistas" que nunca haviam lidado com a marca. Havia também o problema da ausência de tropicalização do produto, gerando quebras prematuras em peças que não davam problemas em pavimentações melhores - tal fenômeno ocorreu também com outras marcas e foi corrigido pelos seus importadores - e um calor infernal no habitáculo, preparado para enfrentar os 40 graus negativos dos invernos de Moscou e Leningrado. No mais, era gostoso de dirigir (dei umas voltas em um que era do meu tio Pedro nos idos de 1996) e divertido como todo carro de tração traseira; talvez o seu melhor atestado esteja nos clubes espalhados pela Europa - alguém conhece algum clube do Ascona, do Escort ou do Regata por lá? O modelo da foto é do Flávio Gomes, talvez o maior entusiasta da marca no Brasil e que, segundo a agência Tass, pretende honrar as tradições da marca nas competições de rali...
Em 1966, no auge da corrida por potência iniciada pe-lo Pontiac GTO dois anos antes, a GM resolveu conciliar o que parecia impossível: quase 400 hp de potência despejados nas rodas da frente, lançando o belo cupê Toronado, cuja primeira geração foi até 1970. Com ele, os engenheiros da Oldsmobile provaram ser viável juntar tração e direção em um veículo de alto desempenho - falamos de um V8 425 de 7.0 litros e 385 hp brutos - colocando-o apto a enfrentar os melhores muscle-cars de sua época e honrando a tradição de inovação da empresa, que se iniciou com o Curved Dash 1901, primeiro veículo produzido em série da história. Considerado perfeito do ponto de vista técnico, o Toronado esteve longe de ser um sucesso de vendas, já que, para o consumidor americano, soava incoerente um carro tão brutal e exclusivo com um sistema de tração que lembrava os compactos europeus e japoneses, nunca tendo vendido mais do que 40 mil unidades anuais em sua primeira geração - para efeito de comparação, a Chevrolet vendeu 1 milhão de Impalas só em 1965. Se a proposta de um muscle-car com tração dianteira parecia incoerente em 1966, ano do modelo da foto, a crise do petróleo, sete anos depois, levou todas as fábricas a buscarem oferecê-la em sua linha de produtos, em um esforço desesperado contra a neurose das "milhas por galão", colocando a Olds, mais uma vez, na posição de vanguarda na história do automóvel.
Em 1968, as GMs mexicana e brasileira lançaram, respectiva-mente, o Opel Olímpico e o Chevrolet Opala, provando para a matriz a viabilidade de se adaptar a consagrada mecânica dos Chevrolets americanos ao ótimo projeto do Opel Rekord C, com a diferença que o Opala adotou alterações estéticas nas partes frontal e traseira que o individualizaram em relação ao desenho original - o Olímpico era idêntico ao Rekord na aparência externa. Os australianos da Holden, entretanto, foram ainda mais longe no cupê Monaro, fazendo mudanças nas extremidades da carroceria, aumentando o entre-eixos, desenhando um painel diferente e oferecendo, na versão GTS da foto, o motor Chevy V8 327 (5.4 litros) como opção às unidades de seis cilindros de projeto da própria Holden, diferentes do nosso 4100. O nome Monaro se tornou uma lenda australiana, mais ou menos como o próprio Opala no Brasil, tendo designado, até 2006, um belo cupê baseado no Commodore. Ah, se esse V8 tivesse sido adotado por aqui...
... com o "basicão" 150 do post abaixo, fica a foto do mais valolrizado dos Bel Air, o conversí-vel 1957 do acervo do mesmo museu, que mostra o bem que uma boa maquiagem faz a um carro. Só desconsiderem, por favor, o bonequinho barango dentro do cofre do motor, que os americanos e alguns colecionadores brasileiros acham o máximo...
Sem considerar o esportivo Corvette, até 1960, a Chevrolet oferecia uma única plataforma para os seus carros de passeio, com diversas opções de carroceria, normalmente reconhecida pelos brasileiros como Bel Air. Esse nome surgiu em 1950 em um elegante cupê hardtop, passando a designar todos os Chevys de acabamento mais caprichado de 1953 até 1958, ano em que o nome Impala tomou seu lugar. Entretanto, a Chevrolet disponibilizava versões de acabamento mais simples como a básica 150 (One-Fifty) e a intermediária 210 (Two-Ten) como opções mais acessíveis ao luxuoso Bel Air. Pouco conhecido entre os brasileiros, o 150 oferecia apenas as opções menos elaboradas de carroceria, como a de duas portas com coluna 1957 da foto, além de pintura em um único tom, pneus sem faixa branca, calotas mais simples, acabamento rústico e menos enfeites e cromados na parte externa. Normalmente, esses veículos eram adquiridos por frotistas. A foto foi tirada no Route 66 Auto Museum em Santa Rosa, NM, que tem uns carrinhos interessantes em seu acervo.