Caminhão Ford F-600 1957 ...
Há 15 horas
Uma volta nos automóveis antigos e clássicos que marcaram época
Muito antes de chamar a atenção do mundo graças às 500 Milhas de Indianá-polis, o estado de Indiana já havia assegurado lugar na história do automóvel ao sediar a única grande fábrica norte-americana de veículos fora de Michigan. Fundada em 1852, em South Bend, pelos irmãos alemães Staudenbecker para fabricar carruagens, a Studebaker produziu seu primeiro automóvel em 1902 e se destacou, nos anos 20, pela excelência técnica dos seus produtos, tendo suportado bem a depressão dos anos 30. Em 1947, ela apresentou o primeiro carro inteiramente novo do pós-guerra, o Champion, que inovou ao trazer os paralamas integrados ao desenho da carroceria, equipada com o mesmo seis em linha de 2.8 litros e 80 hp brutos dos anos 30. O design ficou por conta do grande Raymond Loewy, famoso por ter criado as formas da garrafa de Coca-Cola e o maço de cigarros Lucky Strike, e o Champion era visto, na época, como o carro mais bonito do mundo - as grandes de Detroit só renovariam suas linhas em 1949. Pena que a empresa se descuidou de detalhes do controle de qualidade, comprometendo a imagem do veículo e dela própria nos anos seguintes, até a que as vendas inexpressivas nos anos 60 precipitaram o fim da mais romântica marca norte-americana já criada. O modelo da foto, um Champion cupê 1948, pertence ao Mário Ferretti, maior entusiasta da Studebaker no Brasil, e esteve no encontro de Lindóia/2005.
Nos anos 70 e 80, enquanto Honda e Toyota avançavam no segmen-to dos modelos de grande produção e a Nissan fincava sua bandeira no hall dos grandes esportivos da história, a Subaru se preparava para a imortalidade ao conceber uma das maiores lendas do Rally da geração seguinte à do Audi quattro, o Impreza WRX, que alcançou a glória nas mãos de gigantes como Colin McRae e Petter Solberg. Entretanto, a história da marca da constelação começou bem antes, em 1958, quando saiu de suas linhas de montagem o 360, número alusivo ao volume, em centímetros cúbicos, do motorzinho dois-tempos traseiro de dois cilindros e apenas 16 cv que o equipava. Produzido até 1971, a curiosidade ficava por conta da estranha posição dos retrovisores externos, unanimidade no mercado japonês nos anos 60 e 70 que perdurou até os anos 80 em alguns modelos. O 360 1965 da foto foi capturado do impagável site do Flávio Gomes e se encontra preservado em um museu na cidade de Fukuyama.
Com a in-dústria de esportivos europeus e muscle-cars americanos pega no contrapé após a crise do petróleo dos anos 70, os japoneses acharam uma brecha para expandir a atuação dos seus produtos no mercado americano. Vistos, até então, como opções econômicas, eles tinham boa penetração na faixa dos modelos de entrada, mas, enquanto a Toyota não obteve sucesso com o fantástico 2000 GT, a Nissan dava passos mais largos para a conquista do segmento dos esportivos com o 240Z 1969 (vendido no EUA, a partir de 1970, sob a marca Datsun, criada especialmente para lá e extinta em 1981) que, mesmo tendo sido lançado ainda na era de ouro dos GTs, obteve considerável sucesso graças ao preço inferior ao de um Corvette - que, por sua vez, era muito mais barato que os GTs europeus - aliado à ótima qualidade do produto. A consolidação definitiva da marca na América se deu com seu sucessor, o 280 ZX, cujas linhas foram renovadas em 1979, época em que os americanos pareciam ter se esquecido de como fazer grandes carros e os esportivos europeus que sobreviveram à fúria da OPEP alcançavam preços exorbitantes. Com seu seis em linha 2.8 de 135 cv líquidos ele estava entre o que havia de melhor entre os carros-esporte, tradição mantida atualmente pelo 350Z, que é alardeado pela marca como o esportivo mais vendido do mundo. O 280 ZX 1979 dourado, preservado no Route 66 Auto Museum, dá uma idéia da importância da dinastia Z, já que é o único modelo estrangeiro em exposição lá.
O painel conta com dois grandes mostradores centrais, um com ve-locímetro, odômetro e luzes-espia e o outro com um relógio de horas a corda, além de dois porta-luvas sem tampa, um em cada extremidade. Não há marcador de combustível e a torneirinha da reserva do tanque fica ao alcance do pé do motorista; aquecedor era equipamento padrão. Por fora, nada de cromados em volta dos vidros nem de quebra-ventos ou abertura das janelas traseiras, sofisticações que foram acrescentadas no decorrer dos anos; frisos e pára-choques vincados, portas e tampa do motor de desenho diferente, as indefectíveis "bananinhas" e rodas aro 16 ajudam a diferenciar o carrinho (nas fotos, ele ainda está com as rodas aro 15, já que as 16 estavam em restauração). Por isso mesmo, os primeiros Bretzel são muito valorizados, já que carregam muito da concepção inicial de Porsche. Dirigindo-o, mesmo quem está acostumado com o Fusca sente o volante pesado, a falta de estabilidade e a imprecisão nas rodas dianteiras, principalmente acima de 60 km/h, já que não havia ainda o amortecedor de direção; além disso, os amortecedores eram do tipo "bracinho", de modo que o carro pula mais do que seus irmãos mais novos. O escapamento único lhe dá um ruído semelhante ao das primeiras Kombis, mas o interior da cabine não chega a ser significativamente mais ruidoso do que nos Fuscas mais recentes. Além da estabilidade deficiente e da falta de potência por causa do motor menor, outro detalhe que chama a atenção é a má visibilidade, culpa das pequenas janelas traseiras e dos minúsculos retrovisores (o externo era acessório), o que só serve para aumentar a emoção e a reverência ao dirigir esse pioneiro, objeto de desejo de dez entre dez apaixonados pelo maior ícone sobre rodas já criado. Quem pensa que o veterano está aposentado se engana: em 2006 ele encarou a Fernão Dias de BH até São Paulo sem nenhum problema, confirmando os comentários sobre o post aí embaixo, que defendem que carro antigo tem que rodar.
Responda com toda franqueza: se você tivesse o privilégio de poder guiar a mais linda de todas as Ferrari, uma 250 GT SWB 1961, teria coragem de colocá-la em uma estradinha cheia de poças d'água que vão sujar o assoalho todo e ainda correr o risco de voarem pedrinhas que deixam marcas na pintura ou trincam o pára-brisa? Um milionário europeu diria "sim, uai, elas não foram feitas pra isso mesmo?" O gosto que os colecionadores do Velho Continente têm em manter suas jóias em seu habitat natural já foi abordado em um dos primeiros posts deste blog, tendência seguida pelos nossos vizinhos argentinos e uruguaios, principalmente nas provas de estrada. No Brasil, onde se segue a prática norte-americana de eventos estáticos, há esforços para que se crie esse tipo de cultura no meio antigomobilista, mas o único evento que parece ter se firmado foi o Rally do Classic Car Club do RS, que parece ser sensacional. Nunca tive coragem de levar um carro para esse tipo de encontro, mas começo a ficar tentado...
Alguns construtores independen-tes ganha-ram a posteridade graças a projetos revolucioná-rios que acabaram se revelan-do um pas-so maior do que as pernas contra adversários ferozes - e nem sempre leais - já estabelecidos, como o americano Tucker e o brasileiro Democrata, sendo que só o tempo lhes fez justiça diante da fama de arapucas contra o consumidor que ganharam na época. Com o Emme 422T, produzido pelo grupo Megastar em 1998, foi diferente: situada em Pindamonhangaba, a marca comprou um lote de motores turbo 2.2 rejeitados pela Lotus britânica e fabricou uma cópia mal-feita do protótipo Volvo ECC com um tipo de plástico de alta tecnologia chamado VeXtrim e, após a fabricação de algumas unidades e um suposto investimento de US$ 200 milhões, encerrou suas atividades sem nenhuma explicação, deixando órfãos os dez ou doze compradores do problemático sedã, que chegou a ser encarado como possível concorrente da BMW M5. A imprensa chegou a levar a Emme a sério: uma unidade de pré-série de 1997 chegou a sair na capa de uma Quatro Rodas com a alcunha de "O Lotus Nacional", já que o modelo chegou a carregar o emblema da marca britânica. O exemplar da foto, tirada do site do Flávio Gomes foi flagrado em Lindóia/2008 - confesso que nunca vi o carro - e as informações acima foram extraídas dos comentários da legião de blogueiros que o freqüenta e de uma ótima matéria no Best Cars.
Carroceria cupê, se-dan quatro portas ou perua, todas com cinco ou seis luga-res; motor de quatro ou seis cilindros com câm-bio de três ou quatro marchas, mecânico ou automático, na coluna de direção ou no assoalho; acabamento espartano, luxuoso, esportivo ou superior; opção de direção hidráulica e ar-condicionado, tudo isso em combinações em número fatorial - fora o sucesso nas pistas - faziam com que o campeão da GM agradasse a praticamente todos os públicos, desde os taxistas e frotistas até os executivos bem-sucedidos, passando pelos pais de família da classe média emergente, pelos jovens solteiros que queriam uma imagem esportiva até os vovôs saudosos dos velhos Impalas e os profissionais liberais que queriam um carro de representação. Os anos de 1975 a 1980 marcaram a maturidade do projeto e a época em que ele ofereceu a maior gama de combinações dos ítens acima, como ilustra a bela foto dos dois cupês 1976 enviada pelo Dr. Braga, de Santa Fé do Sul/SP, que mostra uma situação curiosa: o sóbrio Comodoro prata é equipado com o "canhão" 250-S MC Competição de 171 hp brutos, que estreara justamente naquele ano, enquanto o agressivo SS4 traz um 151-S de 98 hp brutos, coisas que só o Opala era capaz de oferecer sem jamais perder a elegância.
Mesmo sendo a menor das Big Three americanas - ou talvez justamente por causa disso - a Chrysler quase sempre esteve um passo à frente de GM e Ford no lançamento de tendências, principalmente quando Detroit vivia seu apogeu nos anos 50 e 60. Assim, após o grupo ter criado o primeiro pony-car da história (é isso aí, o primeirão foi o Plymouth Barracuda e não o Ford Mustang, como muitos pensam), os executivos da Dodge, que se batia com a Pontiac e com a Mercury no segmento intermediário, decidiram que não lançariam apenas um 'Cuda melhorado e colocaram no mercado, em 1969, o primeiro esportivo que mesclava os conceitos dos pony e muscle, com um estilo marcante e mais volumoso do que o dos concorrentes, bom acabamento e motor brutal, com as mesmas opções do Charger. Um anos depois, o Camaro e o Firebird seguiam o mesmo caminho, enquanto a Ford "anabolizaria" o Mustang gradualmente até o Mach 1 de 1971. Venerado pelos colecionadores, o Challenger foi o último grande lançamento de peso da época em que eram os americanos quem davam as cartas nas tendências do design mundial e, segundo alguns historiadores já chegou no final da festa, quando o preço das apólices cobrados pelas companhias de seguro e leis antipoluição mais severas já apontavam que o futuro desse segmento estava condenado. O modelo 1971 da foto esteve em Lindóia/2006 junto com outros dois Challenger, para delírio dos fãs da Mopar.
Visual simples e descolado, sem se remeter aos modelos baratos do segmento de entrada; espírito jovem, invocando esportivida-de, sem pretensões nas pistas de corrida e sem as chateações inerentes aos carros-esporte da época; baixo preço no modelo básico com opcionais de modelos de luxo; e, o mais importante, carisma de sobra, fizeram com que o segmento dos pony-cars causasse uma verdadeira revolução no mercado norte-americano ao oferecer aos jovens motoristas um esportivo acessível e descomplicado. Como a proposta se baseava essencialmente na simplicidade do conceito, nada mais natural que as Big Three americanas escolhessem suas marcas de entrada para a linha de frente com Ford Mustang, Plymouth Barracuda e Chevrolet Camaro. Como nos EUA há mercado para quase tudo quanto é novidade, a Mercury não tardou em apresentar sua opção de luxo ao cavalinho da Ford, o Cougar, lançado no segundo semestre de 1966 e cujas características mais marcantes são os faróis ocultos por coberturas retráteis e o discreto aumento do entre-eixos em relação ao Mustang, com quem comprtilhava a mecânica. Embora não possa ser considerado um fracasso, o Cougar nunca teve o mesmo carisma dos carros-pônei das marcas mais baratas, talvez por uma certa incompatibilidade da proposta original com o perfil dos clientes da Mercury, e - fenômeno interessante - vale hoje menos do que um dos modelos de entrada, quando o usual é que as marcas de maior prestígio sejam as mais procuradas pelos colecionadores. O modelo 1968 da foto esteve no Brazil Classics 2006 e representa o auge do Cougar que, tal como tantos outros ianques, foi grosseiramente descaracterizado na década seguinte até cair no esquecimento e ser, discretamente, aposentado.
Apesar da pindaíba por que vêm passando nos últimos anos, os argentinos não perdem a pose, diriam alguns. Afinal, em que outra cidade do mundo você pode andar de táxi em um modelo campeão de provas de rali e cujo desenho leva a assinatura de Pininfarina? Entretanto, apesar de ainda numerosos na capital portenha, os Peugeot 504 vêm perdendo espaço na "praça" para modelos brasileiros como Fiat Siena, Ford Fiesta Sedan e Chevrolet Classic que, se sinalizam alguma recuperação econômica por um lado, estão descaracterizando a linda Buenos Aires por outro, fazendo com que o clássico e muito mais confortável francês fique com os dias contados na capital portenha. Eu fiz minha parte quando estive lá em 2006: me recusei a tomar qualquer táxi que não fosse o 504, para desânimo da Ju e do casal que foi conosco. Coerência é isso aí, não acham?
Como é que pôde o consumidor americano ter torcido o nariz para a linha Bel Air 55? Apesar do bom-gosto do seu desenho e por ter estreado o V8 da marca, ele sofreu críticas por ser "europeu demais", segundo a literatura especializada, principalmente por causa da grade que lembrava a de algumas Ferrari. O "defeito" foi corrigido na linha 56, como pode ser visto no 210 branco em segundo plano. O conversível da foto, premiado no Brazil Classics 2006, mostra o quanto o mundo foi injusto com alguns grandes carros...