quinta-feira, 4 de agosto de 2011

CORDEIRO EM PELE DE LOBO

Quem tem menos de 30 anos não faz idéia do estardalhaço que cada lançamento da indústria automotiva provocava entre os entusiastas até meados dos anos 90, quando os importados se firmaram de vez no país e as novidades ficaram cada vez mais banalizadas. Mas, de todos os que ficaram no meu imaginário, poucos foram tão marcantes como o do Fiat Tempra em 1992. Com linhas arrojadas e elegantes, motorização 2.0 e esbanjando modernidade, ele afirmava a posição de vanguarda da Fiat entre as "quatro grandes" nacionais ao mesmo tempo que tirava da fábrica de Betim o estigma de produtora de carros populares. As publicações especializadas saudavam o Tempra como cópia do modelo italiano, um projeto moderno que fazia muito sucesso na Europa. A chegada do Tipo italiano ao mercado brasileiro dois anos depois, entretanto, intrigava os mais observadores: o Tipo era infinitamente mais espaçoso (quando o esperado seria o contrário, a exemplo dos Gol/Voyage de então) e o intercâmbio de peças era muito pequeno para carros saídos do mesmo projeto. O mistério se reafirmou ainda mais com a chegada do Tempra SW ao nosso mercado um ano após o Tipo. A explicação é que, do projeto original do Tipo Tre italiano, o nosso Tempra só tinha o estilo. Sua mecânica era herdada do ultrapassado Fiat Regata argentino, bem menos eficiente do que o fabuloso 2.0 visto aqui no Tipo SLX (tive o prazer de dirigir um quando novo e fiquei maravilhado com seu desempenho), e a plataforma tampouco era do Tipo, mas sim também do Regata, que já estava obsoleto na Europa, justificando a arquitetura interna completamente diferente da do primo italiano, com aproveitamento bem menor do espaço. Nunca vi nada publicado a respeito, mesmo em revistas e sites tidos como de referência, muito menos na páginas dos clubes do Tempra espalhados por aí. Para quem se indignou com a Fiat, é bom lembrar que as "segundas gerações" dos concorrentes Monza e Santana também aproveitavam o estilo mais moderno dos seus sucessores europeus (Vectra e Passat, respectivamente) conservando plataformas antigas, mas a GM e a VW não foram tão hábeis quanto a Fiat em maquiar seu produto, mostrando o quão acertada foi a campanha de lançamento do Tempra. Seus sucessores, Marea e Linea, que tinham projetos realmente modernos, nunca tiveram o mesmo apelo entre a classe média.

14 comentários:

regi nat rock disse...

lembro qdo vi um vinho passando feito um foquete na marginal. Fiquei arrepiado. Quanto ao fato de usarem plataforma antiga, nada de novo abaixo do equador. A troco de quê iriam gastar com ferramental novo, caro pra xuxu se ainda podiam ganhar milhões enganando os botocudos? Bastava uma maquiada básica e os italianos sabem fazer isso até hoje. E o Marea e Linea foram meio que rifados no imaginário, com os problemas do Tipo. Eu tive um Tipo por quase 10 anos e raramente dava problemas. E continuo chegado nas nas máquinas feitas na bota. Especialmente umas vermelhinhas...

Arthur Jacon disse...

Luís,
Estou estarrecido! Quais as fontes?

M disse...

Dotô,
Que novidade !
O próprio Tipo, quando desembarcou por aqui, já era encalhe nas Oropas !
Um amigo lá da bota dizia que naquela altura, só garçon comprava...

Luís Augusto disse...

Arthur, que pergunta!
M, o Tipo era um bom carro! Podia até estar em fim de carreira lá, mas era honesto. Já o Tempra foi um estelionato, para usar o termo que o Zullino gosta!

Arthur Jacon disse...

Desculpe, não quis ser indelicado.

Luís Augusto disse...

Indelicadeza, nenhuma, mas um repórter não deve revelar suas fontes (rsrsrsrs)

Arthur Jacon disse...

Inclusive, é um direito constitucional. Mas que é uma revelação e tanto, isso é. Nunca imaginei que Tempra fosse um Regata com uma casca moderna.

Paulo Levi disse...

Luís, pelo que eu sei (inclusive por ter participado do lancamento publicitário do Tempra no Brasil), a suspensão desse carro era baseada na do Fiat Croma, superdimensionada em relação à do projeto original (e à do Tipo, por consequência). É possível que também usasse elementos da plataforma do 131, mas tecnicamente não vejo demérito nisso, já que esse mesmo modelo na versão Abarth obteve ótimos resultados nos ralis europeus da virada dos anos 1970 para os 1980.

Em termos comerciais, cabe ressaltar que o Tempra foi muito mais bem sucedido no Brasil do que na Europa. Fora da Itália os sedãs médios e grandes da Fiat nunca tiveram boa aceitação, e eu diria que até mesmo na Itália encontraram sua principal vocação como taxis. Estive em Turim em 1991 numa viagem de trabalho para preparar o lançamento brasileiro do Tempra, e mesmo lá havia poucas unidades do modelo em circulação.

Luís Augusto disse...

Paulo, antes de mais nada, parabéns por ter participado (ou, quem sabe, comandado?) a melhor campanha de lançamento de um automóvel no Brasil. O que eu quis ressaltar no post é a tradição brasileira de vender gato por lebre, algo que já havia ocorrido com os Dodges e, de certa forma, ocorreu novamente com os Fox e Punto (experimente compará-los aos modelos destinados ao mercado europeu). O Tipo SLX 2.0 (para não mencionar o Sedicivalvole) era um veículo infinitamente superior ao nosso Tempra em todos os quesitos e chegou a custar menos do que o sedã!

Joel Gayeski disse...

Caramba, "me caiu os butiá do bolso" agora.

Dotô, e a plataforma do nosso Punto, é ou não é uma plataforma remendada?

Luís Augusto disse...

Joel, o que sei sobre o Punto se baseia em informações pouco confiáveis, do tipo "ouvi falar". Portanto não me sinto à vontade para publicar o que penso sobre ele. Mas dê uma pesquisada por aí...

Anônimo disse...

bom carro .tive um 95 2.0 i.e., andava muito, não incomodava.Isso em 2005, já tinha 10 anos!!.mas era muito conservado.Por isso eu digo não importa o carro , mas se é ou não cuidado como se deve!

Anônimo disse...

O Fiat 131 tinha motor longitudinal e tração traseira, logo é pouco provável que tenha servido de base para o Tempra. Mas a plataforma 131 foi usada pelos modelos Sahin fabricados na Turquia, algo semelhantes ao Tempra e talvez esse fato tenha dado origem à confusão. Por outro lado, o BCWS refere que a suspensão traseira do Tipo italiano foi modificada para usar no modelo brasileiro, alterando a disposição do banco posterior e reduzindo o espaço interno. E o motor italiano dispunha de duas árvores de balanceamento, garantindo um funcionamento mais suave. AGB

Anônimo disse...

Tive, logo após o lançamento, em janeiro de 2002, uma Fiat Marea 2.4 20V.

Em desempenho, nunca tive carro igual - nem mesmo a Audi 1.8T que comprei pouco mais de 2 anos depois era tão forte.

Marea pecava, sim, pela péssima suspensão para um sedan médio. O carro escapava de frente, de lado, de trás... Era um horror!

Lembro que andei em uma Alfa 156 de um amigo, naquela mesma época. Pensei: Tudo bem que Alfa Romeo é um carro superior, mas como pode ser tão diferente da Marea, mesmo se equivalendo em desempenho?

Com a Audi, mesmo com um desempenho inferior, eu notava que fazer curva era uma coisa prazeirosa, a qual não era para se fazer no braço. E, também com a audi, vi o quão cara era uma revisão da pobre Fiat...

Fiat, nunca mais. Nem popular. Só me ressalvo para aquelas com mais de 30 anos.............. mas só se for Spyder!