segunda-feira, 26 de outubro de 2009

SÓ PARA CAVALHEIROS


Surgida em 1919 a partir do aproveitamento do know-how da fabricação de motores aeronáuticos na I Guerra, a Bentley logo se tornou sinônimo de carro-esporte para a aristocracia inglesa e foram seus modelos os primeiros a imortalizar o British Racing Green graças ao ótimo desempenho nas pistas, que levaram a marca a vencer quatro vezes seguidas as 24h de Le Mans de 1927 a 1930. Episódios inimagináveis hoje em dia, como a história do próprio Walter O. Bentley ter parado uma corrida para apanhar o chapéu de um adversário que havia caído na pista, dizem muito sobre a estirpe da marca eleita pela elite britânica para se divertir. Entretanto, após sua aquisição pela Rolls-Royce em 1931 e a ascenção impressionante das Silber Pfeile alemãs nas pistas nos anos seguintes, a Bentley perdeu muito do ar impetuoso dos primeiros tempos e, embora mantendo o caráter esportivo, acabou se revestindo da fleuma que os Rolls carregavam, tendo ganho temperamento mais estradeiro do que de pista durante toda a década. O amálgama dessas duas épocas tão distintas viria em 1952 com um dos mais estupendos esportivos do início dos anos 50, o R-Type Continental, produzido até 1955 (207 unidades, 165 delas com direção à direita) e destinado a devolver à marca a primazia no mundo dos esportivos. Partindo da plataforma do Rolls-Royce Silver Dawn revestida por uma carroceria muito elegante, moldada em alumínio por H. J. Mulliner, o Continental era capaz de ultrapassar os 180 km/h graças ao seis-em-linha 4.6 (4.9 a partir de 1954) com potência "suficiente", não havendo nada na Europa ou nos EUA que se lhe igualasse em classe e desempenho naquela época. Entretanto, os anos 50 não foram a era do esportivo de quatro lugares e o Continental acabou se tornando uma estrela solitária em meio aos Grand Tourers que viriam no decorrer da década - o seu conterrâneo Jaguar XK 120 já havia apontado o caminho. Cotado a peso de ouro nos dias atuais, não há notícias de algum R-Type Continental em terras brasileiras, mas quem freqüenta a Autoclásica argentina já deve ter visto um habitué daquele encontro por lá.

8 comentários:

M disse...

Beleza de carro !

Luís Augusto disse...

Talvez o maior esportivo inglês, o que não é pouco diante dos Jaguar, Aston Martin, MG, Triumph e Austin-Healey....

Alexandre Zamariolli disse...

Na época em que foi lançado, o Bentley R-Type Continental era o cupê fechado de quatro lugares mais veloz do mundo.
Os segredos?
1) Peso (relativamente) baixo, resultante do emprego maciço de alumínio - não apenas na carroçaria, mas até nas molduras do parabrisa e das janelas laterais.
2) Aerodinâmica: a carroçaria foi desenvolvida em túnel de vento, com a grade do radiador mais baixa e o parabrisa mais inclinado que nos Bentley "normais". Além disso, quando visto por cima, o carro apresentava uma perceptível forma de gota. Essa característica, somada ao desenho dos paralamas traseiros e do teto fastback, direcionava o fluxo de ar para o centro da traseira, diminuindo a turbulência ("vácuo") e o arrasto dela resultante.

Luís Augusto disse...

Alexandre, bem-vindo e obrigado pela complementação!

Alexandre Zamariolli disse...

Luís,

Grato pela calorosa acolhida. É sempre um prazer falar (e escrever) sobre essas máquinas maravilhosas.

Tenho a impressão de que nossas informações sobre o Continental vieram da mesma fonte - o livro The Ultimate Classic Car Book, do jornalista britânico Quentin Wilsson.

Para quem não conhece, a obra é pautada pela ideia de que o antigomobilismo é muito mais acessível do que pode parecer à primeira vista, pois nem todo clássico tem preço proibitivo. Esse ponto de vista é demonstrado por meio de uma carinhosa seleção de máquinas - desde os oníricos Lamborghini, Aston Martin e muscle cars norteamericanos até populares como o Citroën 2 CV, a Fiat Nuova 500 (inspiradora do recém-lançado Cinquecento) e o nosso querido Fusquinha. Leitura obrigatória!

Luís Augusto disse...

Nossa!
Vc me lembrou do meu primeiro livro sobre carros antigos, ganhei do meu pai quando tinha uns 16-18 anos! Boa parte do que posto aqui é de memória (exceto dados técnicos, normalmente acessíveis na Wikipedia ou no Best Cars) mas pode ser que haja influência do Quentin Wilson sim! Vou ver o que ele escreveu sobre o Continental...
Abraços

Felipão disse...

Ainda bem que o pessoal da Volkswagen colocou o Bentley há um tempo atrás nas pistas pra ganhar em Le-Mans... Grande história, Luis... essa do chapéu mostra o qto esses caras eram gentleman drivers...

Luís Augusto disse...

Grande Felipão, bem-vindo de volta!