
Dos grandes produtores mundiais de automóveis, os ingleses estão entre os que deixaram marcas mais discretas na nossa cultura automotiva, o que se reflete, até hoje, na presença relativamente pequena de espécimes britânicos nos acervos dos colecionadores brasileiros; dos veículos nacionais de grande produção, apenas o Dodge 1800, lançado em 1973, é originário da Inglaterra - na foto acima, temos um modelo 1974. Apesar do excelente projeto, ele acabou tendo uma história cheia de altos e baixos, tanto no Brasil quanto nos outros mercados onde foi oferecido, graças à má administração da Chrysler, que havia comprado o grupo britânico Rootes e queria se antecipar à tendência do carro compacto de conceitos ortodoxos, elegendo o Hillman Avenger, de 1969, para o posto de carro mundial do grupo. Como o Brasil fazia parte do mapa de expansão do gigante americano, o Avenger veio parar aqui nos trópicos sob a denominação Dodge 1800 e a aposta parecia boa: associar o prestígio dos Dodge V8 a um modelo mais acessível e bastante atualizado diante de concorrentes como Ford Corcel e Volkswagen TL. O resultado, entretanto, foi um verdadeiro desastre, já que, para se antecipar ao lançamento do Chevette - o carro mundial da GM - a Chrysler acabou colocando o Dodginho prematuramente no mercado, antes que sua tropicalização estivesse completa, ocorrendo problemas crônicos no câmbio e na direção, além de defeitos menores na parte elétrica e no acabamento e do controle de qualidade irregular. Fora isso, havia a estranheza causada pela carburação inglesa (também foi usado o japonês Hitachi, uma cópia do SU, de venturi variável), execrados por mecânicos acostumados aos Solex e DFV, mais simples de serem regulados, e o desempenho algo abaixo do que prometia seu 1.8 de 78 hp brutos. Nem os acertos promovidos pela Chrysler (foram tantos que valeram um novo nome para o carro - Polara - em 1976) e pela VW a partir de 1980 recuperaram o prestígio do Dodginho, que saiu de linha em 1981, ainda bastante atual frente à concorrência. Curiosamente, ele sempre foi muito querido na Argentina (onde foi vendido com motor 1.5 de 1971 a 1980 e 1.8 de 1980 até 1990, já sob a marca Volkswagen), honrando a lenda de que a população daquele país é formada por italianos que falam espanhol e pensam que são ingleses...