sexta-feira, 6 de abril de 2012

O CONTEMPORÂNEO DO DEL REY



No final dos anos 60, em meio ao reinado da Volkswagen no mercado brasileiro, as Big Three americanas resolveram, quase que simultaneamente, produzir automóveis de passeio em território nacional (Galaxie em 1967, Opala no final de 1968 e Dart em 1969). Mas, enquanto a Chrysler e a GM adotaram políticas conservadoras, com um único modelo médio-grande nos primeiros tempos, passando a um compacto de origem européia cerca de cinco anos depois (Chevette e Dodginho), a Ford, sob influência direta de Henry Ford II, decidiu que chegaria no mercado brasileiro arrebentando. Lançou, de cara, um full-size muito superior ao que o consumidor local demandava (o Galaxie), seguido pelo médio Corcel, originário do Renault R12, e pelo médio-grande Maverick, além do Jeep herdado da Willys. Duas crises do petróleo, calotes, gastança desenfreada do governo militar, inflação galopante e retração do mercado provaram que a política agressiva da Ford havia sido equivocada e a tragédia só não foi completa porque o Corcel segurou a barra no período mais difícil - salvo engano, ele detém, até hoje, a marca de ter sido o Ford de passeio produzido em maior número por aqui. Essa estranha conjuntura - o carro-chefe da sucursal brasileira de um gigante mundial ser um produto originário de um concorrente - nos privou do contato com os excelentes Ford europeus até o aparecimento do Escort Zetec em 1997 (sim, o Escort surgiu por aqui em 1984, mas seu "coração" continuou Renault até 1989 e passou a ser VW a partir de então, nas versões mais fortes). Toda essa história para ilustrar o abismo que separou a Ford brasileira das irmãs do resto do mundo, que ficou evidente em meados dos anos 80, quando os mais aficcionados viam o aerodinâmico (e, convenhamos, meio estranho) Sierra brilhar nas provas da DTM e do WRC. Criado para substituir os médios Cortina (inglês) e Taunus (alemão), ele unificou a estratégia da Ford européia, concorrendo na mesma faixa do Opel Ascona e VW Passat. Enquanto isso, a Ford brasileira, fazia o que podia para dar alguma dignidade ao velho Renault R12/Corcel para enfrentar a chegada dos modernos Monza e Santana, caprichando nos ítens de luxo e dando-lhe a pomposa alcunha de Del Rey, obtendo sucesso entre os clientes mais fiéis da marca até 1990, quando um desenho de origem VW (o Versailles/Santana) finalmente substituiu o velho projeto francês.

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