segunda-feira, 30 de agosto de 2010

HÁ VAGAS # 14 - COM A PÁTINA DO TEMPO


Nos meus devaneios antigomobilistas, sempre sonhei com um clássico imaculado, ainda com todos os detalhes estampando a marca do fabricante, pintura original e funcionamento idêntico ao da época do seu nascimento. Confesso que cheguei perto disso quando ganhei o Fuscão 1974 no natal de 2008, mas, apesar de ser até menos rodado, seu estado não chegava nem perto do desta fabulosa Kombi Standard também de 1974, que já apareceu por aqui anteriormente e entrou ontem para a família. Não poderia haver veículo mais improvável para figurar como o representante desta "classe" de carro antigo na coleção, pois as Kombis, como todo veículo de trabalho, tendem a ser castigadas até o último suspiro em sua vida útil, terminando seus dias em estado de decomposição. Pois esta não tem sequer um ponto de ferrugem e dirigi-la é uma verdadeira viagem no tempo, tanto pelas características próprias da velha dama quanto pelo seu estado ímpar de conservação. Mereceu furar a fila...

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

PIADA DE MAU GOSTO


No final dos anos 90 e início dos 2000, ficou notória a prática de algumas marcas chinesas de plagiarem modelos famosos do Japão e do Ocidente e, embora as proporções fossem diferentes das dos modelos originais, a chiadeira das tradicionais casas européias e nipônicas foi generalizada, dado o vasto mercado atingido por aqueles arremedos de Mercedes e Toyotas. Não foi o que ocorreu na Coréia do Norte onde o governo, carente de veículos de representação (o povo não tem direito a possuir automóveis por lá), comprou algumas unidades do Mercedes 190E no final dos anos 80 e copiou suas formas na maior sem-cerimônia - naturalmente, sem as sofisticações tecnológicas ou mesmo ítens básicos de conforto e segurança como ar-condicionado, aquecedor ou apoio de cabeça (!). Provavelmente, a Mercedes não deu muita bola para o fato porque a produção dos vistosos Kaengsaeng 88 (Paikdusan, segundo outra fonte) da foto acima, por conta da estatal Sungri, não passou da casa das centenas e a qualidade do produto era risível mesmo para os padrões socialistas. A matéria completa está no site da Car & Driver e a dica veio do blog do Flávio Gomes.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O ROLLS QUE ATOLOU NA GRANJA

Para encerrar o ciclo de discussões sobre alguns dos Rolls-Royce que vieram parar nestas bandas ainda na antiguidade clássica, não resisto em invadir o espaço do Antigos VerdeAmarelo e publicar a foto enviada pelo leitor Dario Faria. Trata-se de uma das unidades da marca que pertenceram ao colecionador Flávio Marx, cuja história foi contada pelo Zullino no post sobre o Rolls baiano:
"essa história do rolls que era ghincho é do Flavio Marx, ele comprou de um japonês nas barrancas do rio paraná que usava como guincho, não emprestava, não vendia. O Flavio deve ter comprado dos herdeiros e mandou tirar o guincho e fazer uma carroceria torpedo. Mandou pintar de amarelo e preto e andava com o carro normalmente. Uma vez atolou ao sair de minha casa e ficamos até às seis da manhã para tirar o carro. Essa história eu garanto, pois vi o carro, andei e guiei."
Aparentemente, trata-se de um modelo Twenty, produzido entre 1922 e 1929 com um seis em linha de 3.1 litros, pouco menos da metade do tamanho do de um Silver Ghost, para ocupar a faixa de mercado logo abaixo deste e do New Phantom, mais aristocráticos, em uma estratégia que deve se repetir em breve com a produção do novo Ghost.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

HÁ VAGAS # 13 - UM CLÁSSICO SOCIALISTA


Muito embora os Ladas e Trabants tenham entrado no imaginário do grande público como os símbolos da indústria automotiva do lado de lá da Cortina de Ferro, o melhor modelo da era socialista não surgiu na URSS nem na RDA, mas na Tchecoslováquia, possivelmente o país do Pacto de Varsóvia que manteve maior independência de Moscou nas décadas de 50 e 60. Conhecida pelos seus modelos aerodinâmicos dos anos 30, cujo desenvolvimento acabou prejudicado pelos nazistas após a ocupação do país pela Alemanha em 1938, a Tatra se reestruturou após a II Guerra para produzir o Tatraplan e veículos de trabalho, já sob supervisão soviética. A partir de 1957, no entanto, os engenheiros tchecos acharam uma brecha para produzir o desejável 603, um sedã de luxo dotado de um V8 traseiro refrigerado a ar de 2.5 litros e 96 cv líquidos. Como suas qualidades se chocavam com a austeridade pregada pelo regime comunista, o modelo ficou restrito a dirigentes do partido e a chefes de estado do bloco socialista - até Fidel Castro teve o dele - em uma bela resposta do povo tcheco à incômoda influência do Kremlin sobre os rumos da nação. O desenho revolucionário e insubordinado do modelo 1967 da foto, flagrado pelo Paulo Keller em um museu em Tampa, FL, parece antecipar a Primavera de Praga do ano seguinte e seria ele o eleito para a décima-terceira vaga do galpão. Provavelmente, também seria o escolhido para ser usado naqueles dias em que queremos marcar presença em uma festa de novos-ricos ou na porta de um restaurante metido a besta - sem deixar o perplexo manobrista encostar no carro, obviamente!

terça-feira, 17 de agosto de 2010

O FANTASMA INGLÊS

Falando agora dos Rolls-Royce genuinamente britânicos, chama a atenção a longevidade do projeto do 40/50, conhecido entre os amantes do automóvel como Silver Ghost em homenagem ao modelo inicial de 1907. Exemplos como o Ford T (1908-1927) ou o Volkswagen (1938-2003) também chamam a atenção pela vida longa de um mesmo projeto básico, mas foram eles modelos destinados um uma clientela muito menos exigente do que os compradores da Rolls-Royce que, de 1907 a 1925, adquiriam da fábrica de Derby os chassis e encomendavam as carrocerias a firmas independentes, tendo que suportar uma longa espera para desfilar a bordo de um dos 6100 40/50 produzidos (fora os 1700 Springfield Ghosts, como o do post abaixo). A estratégia funcionou bem até o início dos anos 20, quando os aperfeiçoamentos técnicos da concorrência forçaram o aparecimento do New Phantom no ano de despedida do Silver Ghost. O modelo da foto é de 1921 e foi premiado com o Troféu Roberto Lee no distante ano de 1997, quando este que vos escreve esteve em seu primeiro encontro de automóveis antigos, ainda em São Lourenço.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

SPRINGFIELD GHOST, MAS PODE CHAMAR DE ROLLS BAIANO

A interessantíssima história dos Rolls-Royce fabricados em terras americanas já foi contada aqui, mas esta unidade, agraciada com o Troféu FIVA no Brazil Classics 2006, merece um post especial pelo currículo digno de aparecer no Blog do Guilherme. Trata-se de um Silver Ghost Springfield Berwick Saloon 1925 (não 1923, como sugere a placa) adquirido de segunda mão da família Dupont, logo após a II Guerra, por um barão do cacau da Bahia, que o manteve por muito tempo. O Rolls ficou fora de circulação nas décadas seguintes, tendo sido localizado por Roberto Lee, que o considerou um dos carros mais importantes do Brasil, e reapareceu para o grande público somente em 2006 para deleite dos amantes dos grandes clássicos - especialmente daqueles que estão em terras brasileiras desde muito antes de alguém cunhar o termo Antigomobilismo.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

CARRO ROUBADO - 1

Tendo-se em vista o aquecimento do mercado de peças antigas originais e a dificuldade para encontrá-las, modelos de décadas passadas (principalmente os nacionais) passaram a valer verdadeiras fortunas desmanchados, estimulando, por sua vez, o furto especializado em carros antigos, em mais uma triste mazela "desse país" onde o poder público parece só existir para taxar e punir o cidadão. Como já vi dois finais felizes em histórias de furto de carros antigos (um GT Malzoni no RS e um Dodge em SP), deixo aqui a minha contribuição ao dono deste Le Baron de placas CVR 0629 furtado em Vila Mariana, São Paulo. Informações pelo (011) 8170-7036.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

O POLARA NOSSO

A história do compacto da Chrysler brasileira já foi resumida aqui, mas achei que a foto merecia um post, até porque o Dodginho que apareceu anteriormente foi o 1800, que precedeu a denominação Polara. O modelo acima é de 1976, anterior à reestilização da dianteira com faróis quadrados, e foi fotografado por mim em sua posição privilegiada na entrada de uma agência de veículos usados em Eunápolis/BA, mostrando como o antigomobilismo está presente mesmo distante dos grandes centros.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

O POLARA DELES


Enquanto, nos EUA, o nome se refere a um inovador full-size com construção monobloco empurrado por um V8 383 (6.3 litros), aqui ele designa uma versão do compacto Hillman Avenger britânico, cujo desenvolvimento a toque de caixa no Brasil só deu dor de cabeça para seu fabricante...

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

A SOLUÇÃO DA PLYMOUTH


Outra marca que procurou se antecipar aos legisladores a respeito dos faróis quádruplos, porém usando um método mais sutil para burlar as regras, foi a Plymouth, com a linha Belvedere de 1957. Surgido como um cupê hardtop em 1951, o Belvedere se tornou o carro-chefe da empresa a partir de 1954 com diversas opções de carroceria, em uma trajetória semelhante à do Chevy Bel Air. A linha foi inteiramente renovada em 1957 com o belíssimo forward look saído das pranchetas de Virgil Exner, que trazia a curiosidade de acomodar os piscas e faroletes ao lado dos faróis principais, medialmente a estes, dando a ilusão de faróis quádruplos - que viriam, de fato, só em 1958, um ano depois do Turnpike do post abaixo.

GOLPE DE MESTRE


Conhecido pelos antigomobilistas como um dos modelos mais rebuscados da história do automóvel (até vigia traseiro que subia e descia, como os vidros das portas, ele tinha, entre outras diversas soluções inusitadas), o Mercury Turnpike Cruiser acabou marcando época também por ter se antecipado às tendências do final da década como um dos primeiros americanos a usar faróis duplos. Na verdade, a legislação dos EUA proibiu tal recurso em veículos nacionais até 1956, mas já era notório que a restrição cairia no ano seguinte. A Mercury então, muy espertamente, lançou seu top-de-linha - destinado a cruzar a América nas então novíssimas Interstates, como seu nome sugeria - no Salão de New York, no final de 1956, ainda antes da regulamentação dos quatro faróis, mas o colocou no mercado alguns meses depois, já dentro da lei na maioria dos estados, quando a linha 1957 da concorrência já estava no mercado com apenas um par de faróis, em uma jogada de marketing digna de aplausos. A linha dos paralamas continuava semelhante ao restante da linha Ford, como pode ser visto na comparação com o Fairlane 1957 vermelho e branco, ao fundo, do mesmo ano do Mercury dos Rufino, do Celeiro do Carro Antigo, que levaram a raridade no Brazil Classics 2008.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

QUATRO CILINDROS

Um Porsche 356, um Lotus Elan, um MGB e um Puma GTE das primeiras safras, ao fundo. Todos leves, pequenos e ariscos, dotados de motores de quatro cilindros trabalhados a partir de unidades de grande produção. E, mesmo sem marcas exorbitantes de potência, velocidade ou aceleração, se tornaram ícones de esportividade e habitués dos mais badalados eventos e festivais de velocidade pelo mundo afora, provando que o pedigree de um automóvel está muito além dos números de fábrica ou de testes de revistas. Toda essa choveção no molhado apenas como pretexto para publicar a bela foto tirada pelo Gustavo em um rali do MG Clube, restrito a esportivos puro-sangue. E tem gente que só diz encontrar satisfação com a cavalaria na casa dos múltiplos de 100...